Enxaqueca crônica e seu tratamento

Atualizado pela última vez em 04/01/2024

A enxaqueca crônica é uma forma relativamente frequente de dor de cabeça, mas seu tratamento é bastante desafiador. Em geral, ela aparece após anos de tratamento inadequado da enxaqueca episódica. O abuso de medicamentos analgésicos ou questões emocionais podem ser suficientes para transformar uma dor que aparecia eventualmente em uma enxaqueca crônica, presente quase diariamente. Normalmente o paciente percebe que a dor diminui em intensidade, mas aumenta em frequência. Entenda melhor o processo para recuperar sua saúde.

Quando a enxaqueca vira crônica

A enxaqueca é uma das dores de cabeça mais comuns. Acomete mais de 10% da população e é considerada pela Organização Mundial de Saúde como a 19ª doença no ranking de patologias incapacitantes. Até a puberdade, meninos e meninas são igualmente acometidos, mas depois da primeira menstruação, os fatores hormonais aumentam o risco de enxaqueca entre as mulheres que passam a ser as mais afetadas. Uma coisa importante a saber é que a enxaqueca ou migrânea é uma dor que acontece na forma de crises que duram de 4 a 72 horas e que podem se repetir algumas vezes no mês. Todavia, quando a dor passa a ser mais freqüente, o diagnóstico deve ser modificado para Migrânea Crônica e o tratamento segue uma orientação diferente.

É preciso distinguir a enxaqueca episódica da enxaqueca crônica. A forma crônica pode ser uma evolução da episódica que foi aumentando em freqüência e diminuindo em intensidade, passando a ser constante e menos incômoda do que as crises fortes e incapacitantes, características da enxaqueca episódica. A transformação da enxaqueca episódica em enxaqueca crônica pode ocorrer por vários motivos, sendo o abuso de medicação analgésica uma das principais causas. Além disso, o estresse, a estafa, a depressão, a ansiedade, a privação crônica de sono e o sedentarismo são fatores importantes na transformação.

Migrânea Crônica é a forma científica que designa a Enxaqueca Crônica

Na primeira classificação de “migrânea crônica” pela International Headache Society(IHS), uma das condições para a realização do diagnóstico era de que o paciente não tivesse história de abuso de medicação. Depois de algum tempo, especialistas observaram que o critério havia ficado muito restritivo e que muitas pessoas não podiam ser diagnosticadas e não se beneficiariam dos tratamentos propostos. Agora o critério ficou mais amplo e inclusivo, pois considera pacientes com mais de 15 dias de dor de cabeça por mês, independente do uso excessivo de medicamentos para enxaqueca.

Vejamos quais são os critérios da IHS para migrânea ou enxaqueca episódica do tipo comum(sem aura):

A – Pelo menos 5 ataques que preenchem os critérios B a D

B – Ataques de dor de cabeça durando de 4-72 horas (sem tratamento ou com tratamento mal sucedido)

C – Dor de cabeça com pelo menos duas das seguintes características:

  • Localização unilateral
  • Qualidade pulsátil
  • Intensidade de dor de moderada a severa
  • Agravada por atividade física ou causando evitação de atividade

D – Durante a dor de cabeça, pelo menos 1 dos seguintes:

  • Náusea e/ou vômito
  • Fotofobia e fonofobia

E – O quadro não pode ser atribuível a outras doenças

Essas são as características principais e necessárias para o diagnóstico de enxaqueca. Vale salientar que se o paciente toma uma medicação analgésica no início da crise ela pode não se desenvolver completamente e não ter todas as peculiaridades mencionadas. O ideal é que o médico obtenha a descrição de um episódio sem tratamento. Quando as crises de enxaqueca ocorrem menos de 1 vez por semana é possível fazer um tratamento voltado para o controle das crises. Porém, quando o número de crises ou, melhor ainda, o número de dias de dor por mês começa a aumentar estará indicado um tratamento do tipo preventivo ou profilático. Existem vários esquemas eficientes para esses casos e a escolha da terapia baseia-se nas particularidades de cada paciente.

A Enxaqueca Crônica costuma ser uma transformação da Enxaqueca Episódica

Saindo da condição de enxaqueca com crises raras (na qual se dá tratamento só nos episódios) e de enxaqueca com crises freqüentes(na qual se indica tratamento preventivo), chegamos às situações em que a enxaqueca se torna uma companhia quase diária. Nesses casos, o paciente tem dor em mais de metade dos dias e não necessariamente tem o quadro típico de enxaqueca em boa parte do período. A dor pode ser mais leve, do tipo constante e por toda a cabeça, com dias mais fortes intercalados.

Vejamos quais são os critérios revisados pela IHS para migrânea ou enxaqueca crônica:

A – Dor de cabeça tipo enxaqueca ou tensão por 15 dias por mês ou mais, se estendendo por mais de 3 meses.

B – Ocorre em paciente que teve pelo menos 5 ataques que preencheram os critérios de Migrânea com ou sem aura

C – Em mais de 8 dias por mês, nos últimos 3 meses, o paciente teve crises típicas de enxaqueca ou tratadas eficientemente por medicamentos tipo triptanos.

D – Não se pode classificar a dor em outra condição da ICHD-3

Na prática, os grandes especialistas em dores de cabeça consideram como migrânea crônica qualquer cefaléia crônica diária, ou seja, com mais de 15 dias de dor/mês nos últimos 3 meses, tendo ou não história de abuso de medicamentos e que tenham atualmente ou no passado episódios típicos de enxaqueca. O conceito fica mais aberto e inclui pacientes com antecedentes claros de enxaqueca e que atualmente têm dor com muita freqüência.

Para esses pacientes, o tratamento deve ser bem discutido e os recursos terapêuticos mais avançados, utilizados. A combinação de vários medicamentos é frequente em tais casos e os esquemas para tratamento de crises são escalonados para que o paciente não precise buscar auxílio no pronto-socorro.

Tratamento da Enxaqueca Crônica

A Academia Americana de Neurologia, da qual faço parte, recomenda estratégias para o tratamento das enxaquecas. Existem várias medicações disponíveis e comprovadamente eficazes. Entretanto, não há um medicamento que sirva para todos os pacientes. De acordo com o perfil da dor, idade e peso do paciente, padrão de sono, sintomas psiquiátricos concomitantes (ansiedade e depressão são frequentes), gênero e outras características, escolhemos o medicamento mais adequado e com maior chance de sucesso. Evidentemente, existe um trabalho necessário até o ajuste perfeito do tipo de medicamento e da dose. Com frequência, precisamos associar dois ou mais medicamentos para obter o controle máximo da dor com o mínimo de efeitos colaterais.

Nos últimos anos foi aprovado o uso da toxina onabotulínica tpo A (Botox, Dysport) para tratamento da enxaqueca crônica. Em alguns pacientes proporciona um grande alívio, em outros se soma ao arsenal terapêutico para melhorar a eficácia geral. Os medicamentos inibidores de CGRP são a mais nova opção de tratamento e custam nos EUA cerca de 7 mil dólares anuais. Portanto, não são a primeira opção de tratamento.

Tratamentos não-medicamentosos para Enxaqueca Crônica

Existem também os tratamentos não-medicamentosos com eficiência comprovada em enxaqueca. Entre eles podemos citar a Terapia Cognitiva e Comportamental, a Terapia de Relaxamento Muscular, as técnicas baseadas em Mindfulness e o biofeedback. Dessas enumeradas, a Terapia Cognitiva e Comportamental é a que possui benefícios mais comprovados.

O sucesso do tratamento da enxaqueca crônica depende fundamentalmente de um bom diagnóstico e do uso proficiente dos recursos de tratamento disponíveis. O relacionamento terapêutico adequado entre médico e paciente também é imprescindível. Muitas vezes o neurologista precisa fazer várias tentativas para chegar à combinação ideal de medicamentos. Por isso o bom relacionamento é fundamental. Ou seja, o paciente tem que confiar no médico para que juntos alcancem o melhor resultado.

O paciente pode contribuir para sua melhora

Uma parte significativa do sucesso do tratamento está nas mãos do paciente. Como vimos, certos hábitos de vida podem afetar o controle da dor. Entre eles, destacamos a atividade física moderada por 40 a 60 minutos, 5 vezes por semana. Sabemos como isso é difícil, mas é essencial para quem quer melhorar. Também a organização da rotina para ter ao menos 7 horas de sono por noite permite a normalização da auto-regulação cerebral.

Concluindo, podemos dizer que a enxaqueca crônica é o resultado de uma série de atitudes pouco saudáveis em alguém com antecedente de enxaqueca episódica. O tratamento promovido pelo neurologista pode ser medicamentoso ou não-medicamentoso, sendo mais recomendado a combinação dos dois. Tão importante quanto a ação do médico é a pessoa entender que ela tem o poder da autocura. Através da adoção de hábitos de vida saudável, o cérebro tem alta chance de funcionar bem e voltar a ser um instrumento de bem estar e sucesso.

Roger Taussig Soares
Neurologista SP
crm 69239

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roger.soares
Dr. Roger Soares é médico neurologista, nascido em 1968 no Paraná. Mora em São Paulo há mais de 30 anos e é médico credenciado dos maiores hospitais da capital paulista. Atualmente se dedica exclusivamente ao tratamento de seus pacientes particulares no consultório no Tatuapé. Gosta de escrever, aprender e provocar reflexões. "Conhecimento verdadeiro é saber a extensão da própria ignorância." Confúcio

2 respostas

  1. Minha nora está em tratamento de uma enxaqueca crónica a mais de 6 meses sem avanço. Já passou por vários médicos, já fez vários exames . Precisamos de ajuda, por favor se puder indicar um médico para ajudar.moramos em Mairinque estado são Paulo, próximo à Sorocaba.

    1. Olá Sra. Adélia,

      Eu mesmo atendo muitos pacientes da região de Sorocaba.
      Tenho experiência de quase 30 anos atendendo pacientes com casos difíceis de enxaqueca.
      Atualmente temos muitos recursos que podem fazer a diferença na vida da sua nora.
      Pode entrar em contato conosco por WhatsApp em 11-94022-9838 e marcar com a Vanessa.

      Atenciosamente,

      Roger Soares

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