Desde que concluímos nossa residência em Neurologia em 1994 percebemos a importância do atendimento domiciliar aos pacientes neurológicos.

Existem várias doenças neurológicas que comprometem a mobilidade. Por exemplo, pessoas com acidente vascular encefálico podem ficar paralisadas de um lado do corpo, pessoas com esclerose múltipla em formas avançadas podem perder a capacidade de caminhar e pessoas nos estágios avançados de demência (Alzheimer, Parkinson, Frontotemporal, Vascular) ficam na cama imóveis e mudos.

Por essa razão, sempre que necessário procuramos nos deslocar até a casa do paciente para fazer o atendimento quando o deslocamento até o consultório é impossível.

A pandemia da CoVid-19 trouxe desafios e novidades

Cuidados para evitar a infecção pelo Covid

Todos nós vivenciamos esse momento terrível da nossa história. A última coisa parecida com a pandemia do coronavírus tinha sido a Gripe Espanhola no início do século XX.

A quantidade de mortes que presenciamos foi sem precedentes. Por vários meses convivemos com o medo de contrairmos a doença e não resistirmos.

Logo a medicina descobriu que alguns grupos eram mais propensos a complicações graves e morte. Entre eles, tínhamos os portadores de doenças degenerativas avançadas, os muito idosos, os acamados. Muitos pacientes neurológicos preenchiam vários desses fatores de risco. Evitar ir a um hospital ou consultório por risco de contaminação era uma necessidade.

Nessa época eu deixei de atender a pacientes hospitalares e fiquei atendendo inicialmente online e posteriormente no consultório, tomando todos os cuidados recomendados pelas autoridades sanitárias.

Lembro de ter ido nas casas de vários pacientes nessa fase mais difícil. Eram pessoas que poderiam até ir ao consultório, mas tinham medo de se expor ao risco. Com os atendimentos domiciliares conseguimos evitar que muitas pessoas fossem aos pronto socorros por doenças que podiam ser tratadas em casa.

A telemedicina deu um enorme salto

Depois de um tempo de perplexidade, os avanços tecnológicos foram se mostrando como alternativas viáveis para muitos. As crianças puderam voltar a ter aulas, através da internet. A grande maioria dos funcionários e empreendedores descobriram que era possível desempenhar suas funções à distância, com home office. O mesmo aconteceu com o atendimento médico por telemedicina que se tornou uma verdadeira mão-na-roda para o grande público.

De fato, o Conselho Federal de Medicina já vinha discutindo há bastante tempo a questão do atendimento médico à distância. Faltava entender qual a melhor forma para fazer as consultas online.

A Neurologia clínica foi uma das primeiras especialidades médicas a incorporarem a telemedicina em sua prática. O grande impulsionador desse avanço foi o desenvolvimento de tratamentos cruciais para o Acidente Vascular Encefálico na fase aguda.

Nessa situação, a avaliação do neurologista e a indicação do tratamento precisava ocorrer nas primeiras 3 horas do AVC ou derrame. Por isso, começou-se a discutir a telemedicina como meio para o atendimento neurológico rápido e em locais que onde não existiam especialistas.

A pressão que a pandemia impôs sobre todos tornou o atendimento por telemedicina uma prioridade. Logo os métodos adequados se consolidaram.

Hoje as pessoas se sentem até mais confortáveis em poderem ser atendidas estando em suas residências ou trabalho, utilizando chamadas de vídeo com criptografia no seu próprio celular ou computador.

No meu caso, já estávamos bastante habituados com essas tecnologias e já atendíamos pacientes de outros estados brasileiros e até do exterior.

A questão foi aprender a discernir quem precisava de um atendimento presencial inevitavelmente e quem poderia ser atendido à distância.

Atualmente temos a tranquilidade para saber que podemos iniciar uma consulta à distância e, diante da necessidade, solicitar a vinda presencial do paciente para complementar o exame clínico.

Nossa solução mais atual

Acreditamos que atualmente chegamos a um ponto de equilíbrio em termos de cuidados aos nossos pacientes.

Por minha própria opção, estou me concentrando fundamentalmente no atendimento desde o consultório, seja nas consultas presenciais ou online.

Penso que é mais proveitoso para todos fazer o atendimento online ao paciente que não pode ir ao consultório. Quando notamos que existe uma necessidade de uma consulta presencial e o paciente não consegue mesmo ir ao consultório, então recomendamos uma consulta domiciliar com um geriatra ou clínico geral. Damos então o apoio à distância para a decisão conjunta em termos de tratamento.

Evidentemente, existem aqueles casos em que a ida ao hospital é a única solução, especialmente em casos agudos. Há diversos excelentes hospitais em nossa cidade e ficamos sempre à disposição para compartilhar os dados com os colegas que fazem esse serviço.

Na realidade, muitos hospitais de planos de saúde complementar reconhecem há tempos que estrategicamente é melhor que o paciente seja atendido por generalistas e que os especialistas devem ser acionados quando são imprescindíveis.

Com essa solução logística, creio que meus pacientes são bem atendidos, recebendo o melhor dos dois mundos.

Roger Taussig Soares
Médico Neurologista
crm 69239 – SP

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